sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Detergente e Delírio

As minhas unhas não estão compridas nem afiadas o suficiente para rasgar, retalhar essa atmosfera que pesa sobre minhas vísceras. Ao invés disso, tenho as mãos sujas de sabão e deixo cair um prato.
O chão ficou salpicado, de uma maneira maliciosa e estratégica, de cacos: embaixo dos armários, da geladeira, alguns no fígado, atrás do fogão e no estômago. Parada diante da sujeira, a mente sussurra. O corpo, porém, bloqueia.
A vassoura ainda não vai ser pega.
Foi o barulho ímpar da queda quebrando o silêncio da tarde incomunicável. A impotência das mãos faz com que o som interrompa o tédio que a melodia da água fria da torneira traz à tona. É maravilhoso ver todos aqueles pedaços de vidro de um marrom tão denso.
Maravilhosamente desesperador.
Lembro-me dos seus olhos...
e parece que são eles ali fragmentados, perdidos, ausentes.
Misturada na atmosfera está a dúvida que me consome: juntar todos aqueles cacos num monte raso, colocar as mãos sobre eles suavemente, senti-los, roçar os dedos como numa carícia e então cravá-las lá, na esperança de sentir o chão e vê-los sair por entre as carnes, ou pegá-los a montes menores e disformes, a cada tempo com uma mão, e, lambendo-os devagar, sentir o sangue escorrer da língua ao pescoço e o vendo pingar no chão, tentar decifrar se desenharão no piso borboletas de cor escarlate?
O verde dos meus olhos se fecha.
Ambas as ideias se mostram fracas e inúteis.
Nenhuma delas seria capaz de matar a falta que estou sentindo.
Pego, então, a vassoura.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Vou às compras

Tudo cheira à loja ainda.(Quase) todos ainda carregam etiquetas muito bem pregadas na face. Coladas na testa. Sim, com seus preços expostos. Consigo vê-los e me delicio com a sensação, assim posso ver em quem vale a pena gastar meu dinheiro, depositar. O dinheiro é suado e extremamente meu. Não dá pra comprar futilidade, não quero. A pesquisa é diária, incansável, e, aos poucos vou me fartando daquilo que me sacia.