segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Constante



Ela faz amor de meia.
Ela nem mesmo tira o relógio do pulso.
À meia luz. Instigante toque.
Respiração única.
Anseiam por sentir o cheiro da pele
que na lembrança se faz doce ao extremo.
Na presença, na mistura, é de enlouquecer.
Embriagar
desnortear
arrepiar
desejar
e possuir.
Possuir lenta e interminavelmente.
Forte e sutilmente.
Alimentam-se de cada um dos minutos de distância.
A fome, porém, ainda as toma por inteiro quando os lábios de aproximam e o marrom e o verde se perdem de tão próximos.
Deslizam as mãos pelas costas numa sensação ímpar.
Gosto, jeito, singular.
Têm o tempo nas mãos, o seguram com as pernas. O tem ao inteiro dispor.
Querer, sabor.
O relógio só volta a marcar o tempo escorrido e lento com a luz da manhã.
Braços e pernas. Enlace.
Nó. Simplesmente indesatável.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Pais



A vontade de ouvir o silêncio se faz imensa !
Desejo apenas perder-me no escuro do quarto e no tom de marrom dos seus olhos.
Tantas ofensas pronunciadas sem motivo. Sinto que sentem necessidade de se ferir.
Têm prazer fazendo-se sangrar, agonizar.
Sabem que ouço, sinto, sofro. Esse fato só não é importante. Sua dor é maior e única.
Sinto-me ponte.
Ouço versões, desabafos.
Ao mesmo tempo que os quero unir, os afasto.
A culpa não encontra um sujeito só pra refugiar-se, mas eles a desejam.
Precisam dela para não perderem a razão.
Razão essa que retirou-se da cozinha há tempos por não suportar o cheiro de sangue.
Quem me dera poder fazer o mesmo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Caminho



O desenho das pernas cruzadas já se acostumou com a cabeça pesada, escorada pelas mãos.
O observar as linhas amarelas se perdendo no fim das curvas traz vontade. Necessidade.
Sente-se que muito e muitos vêm. Fragmentos deliciosos de lembrança boa; que transborda de prazer. Marca.
Levam. Pedaços, palavras, olhares meus. Aqui já quase não estou.
Essa estrada conhece bem onde está minh'alma retalhada.
O sentir já se fez viajante e deixou-me. Por isso sento à beira dessa estrada.
Pra seguir o vento, pra brincar de corda-linha amarela bamba e sumir. Passos sutis, certamente incertos, encurtando distâncias. Braços pedindo abraço de saudade que a estrada dá e toma.
O corpo perece e padece à beira da estrada. A sede vem e não pede água.
Pede chegada.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Heterônimos



Falso diálogo entre Pessoa e Caeiro
[Pessoa]- a chuva me deixa triste...
[Caeiro] - a mim me deixa molhado.

Perder-me nas pessoas de Pessoa é meu ópio.
Querer-te tanto aqui é minha razão.